Na sala de aula, as carteiras saem e dão espaço aos colchonetes. É sinal que as aulas da Rede Cidadã vão começar no Centro Socioeducativo Santa Terezinha, em Belo Horizonte. Em meio à rotina, é ali que seis adolescentes se reúnem para discutir futuro, protagonismo juvenil e mercado de trabalho.

Duas facilitadoras substituem a figura do professor: o intuito do projeto é que as aulas se transformem em debates e um espaço em que a voz principal é a dos adolescentes. “Não há hierarquia professor e aluno como existe nas aulas rotineiras, ficamos todos sentamos no mesmo lugar”, explica Isabella Natália Souza, uma das facilitadoras. Ela conta que o projeto usa a metodologia educação biocêntrica, que “tira o aluno do lugar de espectador para um lugar de protagonista” e ressalta que todas as aulas são voltadas para o autoconhecimento. “É uma formação para a vida e para o trabalho”, reforça.

CAP 2908

As conversas com os adolescentes buscam desenvolver o autoconhecimento de quem são e podem ser, como se relacionar com o outro, quais habilidades possuem para terem sucesso no mercado de trabalho e como seus atos refletem na sociedade. Isabella conta que “muitos chegam negando o conhecimento, acreditam que nasceram para o crime e, com o passar dos dias, conseguem pensar em opções de trabalho e projetar com eles um futuro melhor”.

Cada curso tem a duração de um mês e meio e já estão implementadas em todos os Centros Socioeducativos e Casas de Semiliberdade de Belo Horizonte e Ribeirão das Neves. Ao todo, 171 adolescentes já se certificaram. E, ao final de cada turma, o projeto indica os adolescentes para serem empregados por empresas parceiras.

Ricardo Alves*, de 18 anos, acompanha as atividades desde o início das aulas em fevereiro e já percebe mudanças no seu comportamento. Diz que aprendeu a lidar melhor com suas emoções e que até sua família reconhece que está mais calmo. “Agora tenho um pensamento mais positivo e pretendo entrar no mercado de trabalho”, conta.

Para ele, a atividade na unidade é um momento em que pode se expressar com maior liberdade e aprender a lidar com os outros. “Vou levar para minha vida o que aprendi aqui, como tratar as pessoas e respeitar o direito do próximo”.

A diretora do Centro, Christiane Coelho, reforça a importância de trabalhar o protagonismo juvenil. “Você consegue ver que os adolescentes estão mais empoderados, solicitam ajuda para montar currículo e distribuir nas empresas”.

*Nomes preservados segundo indicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

Por: Flora Silberschneider

Foto: Carlos Alberto/ Imprensa MG