O programa de redução de homicídios Fica Vivo completa, em 2018, 13 anos de atuação no Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) Santos Reis, em Montes Claros. Desde a sua implantação, o projeto teve uma média anual de participação de 502 jovens da comunidade e realizou mais de 81 mil atendimentos nas 20 oficinas disponibilizadas no território.

Somente no território Santos Reis, a redução estatística de morte de jovens de 12 a 24 anos chega a 100% na comparação de dados de 2012 até 2018. Os dados comparáveis são de 2012 para cá, quando o Registro de Eventos de Defesa Social (REDS) foi implantado. Foram quatro mortes há seis anos e atualmente, neste ano, ainda não há nenhum registro. Se levarmos a somatória dos dois territórios de Montes Claros onde já existe Fica Vivo – há atendimentos também no Cristo Reis - a redução total é de 66%, com registros de homicídios de jovens caindo de 12 para quatro.

De acordo com a subsecretária de Prevenção à Criminalidade da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Andreza Gomes, a queda nas estatísticas acontece porque a política é construída por meio do diálogo com os moradores dos territórios de atuação. “É uma política voltada para o público e construída com o público. Esse é o grande ganho da prevenção em Minas. ”

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Higor Ferreira, de 20 anos, é um dos diversos jovens cujo programa mudou sua história. Tendo um pai oficineiro, profissional que trabalha no Fica Vivo!, não foi difícil se inspirar e entrar para o programa. Aos 13 anos ele começou a participar das oficinas de sapateiro (que o próprio pai ensinava), música, futebol e judô. E, segundo ele, apesar de o judô ter lhe dado mais “disciplina e respeito”, foi a música que mais mudou sua vida.

No início deste mês, Higor entrou pela primeira vez em uma oficina para inspirar tantos outros jovens. Agora ele é oficineiro como o pai e busca, através de poesias e músicas, fazer com que os participantes consigam expressar visões sobre a sociedade em que vivem.

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“O rap, assim como o hip hop, sempre foi muito importante nas comunidades marginalizadas para tentar transformar o espaço cercado pela violência, em arte, música e dança. É um caminho, na mente dos indivíduos, longe da realidade sofrida. É isso que eu vou tentar fazer na oficina com os jovens”, contou.

Além da oficina, Higor se reuniu com outros dois amigos e criou o grupo “Velafa Vive”, que vem se destacando em apresentações pela cidade e com a publicação, na internet, de vídeos e músicas autorais envolvendo o rap e a poesia.

Divisor de águas
Outro exemplo de jovem que se tornou oficineira e ganhou uma profissão pelo Fica Vivo! é o de Jhessyca Lindesey, de 21 anos. Ela entrou para o Fica Vivo! aos 11 anos, depois de uma trajetória de bullying na escola e de violência em casa. Viu nas oficinas de rap e música uma opção para se empoderar e romper com esses ciclos. Começou a cantar e se apresentar junto com as oficinas e hoje, além de oficineira também se destaca como cantora na região.

“O Fica Vivo! pra mim foi um divisor de águas. Eu ia para aulas, mas além de aprender a cantar e dançar, encontrava também um confidente e conselheiro na pessoa do meu oficineiro. A oficina era onde eu me sentia eu mesma, podia falar dos meus problemas e sempre encontrava apoio. Foi, e é, muito importante na minha vida”, disse emocionada.

Gestora do CPC Santos Reis, Nayanne Amaral, acredita que dar espaço para que os jovens possam falar e expressar seus sentimentos traz impactos reais no processo de saída criminalidade. “Muitos jovens chegam aqui bem novinhos e enxergam na equipe uma referência de não violência porque sempre conversamos com eles respeitando a individualidade e buscando envolve-los. Tenho certeza de que o caminho de trabalho junto aos jovens precisa contar com o envolvimento deles em todas as etapas”, concluiu.

Comemoração
Neste sábado, 15.12, uma tarde inteira de programação com atividades das oficinas oferecidas pelo Fica Vivo!, em Montes Claros, vai celebrar os 13 anos de atuação do programa de redução de homicídios no Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) Santos Reis. Com o tema “Na linha do Tempo”, a ideia é resgatar a história do programa no território desde sua criação, em 2005.

Durante a programação, o público presente será brindado com apresentações culturais, artísticas e exposições. Para finalizar, haverá também uma sessão de homenagens a todos que de alguma forma contribuíram com a história do programa em Montes Claros.

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 O Fica Vivo!

O programa Fica Vivo!, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), possui foco na prevenção e na redução de homicídios de jovens e adolescentes. Ele atua em áreas com registros de índices elevados de criminalidade violenta. São mais de 10 mil jovens assistidos em todo Estado e cerca de 4.000 atividades por mês, dentre elas oficinas de esporte, capacitação profissional, debates e atividades que permitem debater e desenvolver ações para um futuro melhor e promissor dos jovens.

Texto: Poliane Brandão

Fotos: Divulgação/Sesp