O Corredor Cultural, no centro de Montes Claros, no Norte de Minas, foi o palco de exibição do minidocumentário “O lugar não te define”, produzido pelo Programa Mediação de Conflitos (PMC) Cidade Cristo Rei, da Secretaria de Estado Segurança Pública (Sesp), em parceria com os moradores locais. A obra, que resulta de um projeto temático homônimo ao filme, elaborado pelo PMC, foi apresentada na noite desta quinta-feira, 23/5.

 Uma das propostas do projeto é a mudança de olhar do centro da cidade para as áreas periféricas, em especial para o bairro Cidade Cristo Rei, onde os moradores são estigmatizados e chegam a perder até oportunidades de emprego apenas por residirem na região. O minidoc traz depoimentos dos moradores e da equipe do PMC sobre suas experiências e vivências sociais no território, abordando estas questões. Também mostra como a equipe do PMC tem trabalhado, junto à comunidade, para tentar romper esta estigmatização, dando o exemplo do projeto que levantou as potencialidades locais e levou os trabalhos, desenvolvidos pelos moradores, para a feira de artesanato do município, que acontece na Praça da Matriz. A exibição do minidocumentário também faz parte deste projeto. 

A gestora do Centro de Prevenção Social à Criminalidade (CPC) de Montes Claros, Nayanne Amaral, conta que alguns moradores que expuseram seus trabalhos nas feiras, durante o período de realização do projeto, seguem participando, agora sem a mediação direta da equipe, e tendo bons retornos nas vendas. “Permitir que eles reconheçam suas potencialidades e possibilidades e, ao mesmo tempo, que tenham voz em outros espaços, foi um dos principais pontos estimulados. Construir esse caminho junto à população local, na superação dos estigmas e preconceitos, foi primordial e faz parte daquilo que entendemos como segurança cidadã”, explica a gestora.


Para o analista social do Programa Mediação de Conflitos Lucas Almeida, a exibição é uma oportunidade para que os moradores possam ser “vistos de forma diferente”. “É uma forma de eles serem considerados como qualquer outro cidadão, com garantias e direitos, inclusive com a possibilidade de frequentar novos espaços da cidade, sem serem estigmatizados pelo local de origem”, afirma.

Experiência de sucesso

Na véspera do Dia das Crianças, em outubro de 2018, o morador Gilmar Batista Lima, de 49 anos, decidiu fazer banquinhos para dar de presente aos netos, com os pallets que comprou de um vendedor que passou na porta de sua casa. Algumas pessoas que viram o material produzido começaram a fazer pedidos. E ele, que nunca tinha trabalhado com isso, achou no novo ofício uma alternativa para complementar a renda de pedreiro, que estava sem demandas. Quando entrou para o projeto do Programa Mediação de Conflitos, passou a exibir os produtos na feira da Matriz. O trabalho deu certo e, ainda hoje, Gilmar vende seus produtos todos os domingos no local.

Dos cinco banquinhos para os netos, o morador também passou a fazer mesas, casinhas para cachorro, tamboretes e outras demandas do público, de forma personalizada. “É tudo manual, no serrote, na lixa; capricho para ficar bem bonito. Por causa do programa, hoje estamos vendendo na feirinha. Antes, era apenas por encomenda”, conta. “Sou muito agradecido”. Ele, que também participou do minidoc, esteve presente no Corredor Cultural para prestigiar o trabalho.

Gilmar relata já ter sido discriminado por morar no bairro Cidade Cristo Rei, mais conhecido como Feijão Semeado. “Uma moça disse para um colega meu que eu entendia do serviço, mas infelizmente morava no Feijão. Ele me defendeu, falou que me conhecia e que eu era uma boa pessoa, que ela não precisava se preocupar comigo trabalhando na casa dela”, lembra. “Ele me contou, fiquei chateado e acabei dispensando o serviço quando ela entrou em contato, falei que já tinha outra demanda e não poderia atender. Temos que ser respeitados, assim como respeitamos os outros. Nós não somos as pessoas que eles pensam”, compartilha. 

O Programa

Presente em 33 Centros de Prevenção à Criminalidade de Minas, o Mediação de Conflitos trabalha a prevenção e o enfrentamento à violência em territórios de vulnerabilidade social, por meio de atendimentos individualizados e atividades coletivas.

As equipes de analistas sociais do programa, a partir de diversas técnicas, incentivam o diálogo, potencializam o capital social, viabilizam o acesso a direitos, contribuem para o fortalecimento e a mobilização comunitária. A intenção é construir com os moradores uma Segurança Publica Cidadã promovida pelos meios pacíficos de resolução de conflitos, a partir dos fundamentos da Mediação Comunitária, impactando na redução de possíveis desdobramentos em homicídios, violência e violações.

Texto: Dayana Silva

Fotos: Divulgação Sesp