Sobe um tom, regula a voz e tenta de novo. É preciso persistência, disciplina e dedicação para fazer uma  apresentação musical sem desafinar. Esses fundamentos também são muito importantes para quem quer um recomeço. E é nesse espírito de esperança que o Festival da Canção Prisional (Festpri) chega à sua quinta edição humanizando o cumprimento de penas e facilitando a ressocialização dos indivíduos privados de liberdade no Estado. Durante toda a tarde desta quinta-feira (19/9), 14 acautelados participaram da final da Etapa Norte de Minas do Festpri, em Montes Claros.

Com canções que falam de arrependimento, confiança, gratidão e fé, os participantes levaram ao público presente canções de autoria própria cheias de emoção e esperança de dias melhores. A dupla vencedora, Pedro Cavalcanti e Luiz Ricardo de Andrade, é do Presídio Regional de Montes Claros. Eles foram eleitos com a composição “Música para Deus”, que em um dos versos diz: “O tempo de chorar de passou, uma nova história começou e outra vez eu voltei a sorrir”.

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Segunda vez campeão no Festpri, Pedro Cavalcanti se diz muito feliz em poder participar e, novamente, ter seu talento reconhecido. “A música realmente transforma nossas vidas. Cantando me sinto livre e acredito que por isso as pessoas gostam. É muito gratificante ver a alegria e admiração da minha família aqui torcendo por mim”, contou o vencedor.

Já Luiz Ricardo, que venceu junto com o Pedro, acredita que propostas como essa do Festpri fazem muita diferença para os custodiados. “É um momento importante para a gente se sentir valorizado e admirado como ser humano. A música toca os corações e realmente impacta no nosso dia a dia”, afirmou.

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Durante toda a apresentação, os olhos de Ângela Cavalcanti brilhavam ao ver e ouvir o irmão campeão no palco. “É a segunda vez que ele vence o festival e estamos muito orgulhosos. Esse tempo aqui dentro transformou meu irmão de verdade. Agora espero que ele cante lá fora e continue nos enchendo desse mesmo sentimento aqui hoje, que resumo em uma palavra: orgulho!”, disse, emocionada.

Cultura e ressocialização

Representando a Diretoria de Ensino e Profissionalização do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Andreia Flois afirmou que o Festpri é uma iniciativa muito especial dentre todas as atividades que ajudam no processo de ressocialização. “Acreditamos que a educação, a arte, a cultura e o fortalecimentos dos laços com a família e a sociedade são fundamentais no processo de reintegração desses indivíduos com a sociedade”, destacou.

Diretor regional do Depen pela 11ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), Adaílson Santos ficou muito satisfeito com o evento em Montes Claros e disse estar orgulhoso em poder proporcionar essa experiência para os reeducandos. “É um projeto voltado para a ressocialização e o incentivo cultural. Damos a esses indivíduos privados de liberdade uma oportunidade de mostrarem seus talentos e, quem sabe, conquistarem algo também quando saírem do encarceramento”, afirmou.

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Presidente da Pastoral Carcerária e parceiro do Festival, Dilson Marques parabenizou a Sejusp pelo evento que, em sua opinião, é um instrumento importante para a ressocialização dos acautelados. “Nós apoiamos integralmente o festival porque acreditamos que ele envolve não somente os detentos, mas também seus familiares, a comunidade vizinha e a sociedade”, pontuou.

O segundo lugar da competição ficou com a dupla Michel Martins e Henrique de Oliveira, ambos do Presídio de Curvelo, com a canção “A Mulher da Minha Vida”. Já o terceiro lugar ficou com o quarteto do Presídio Alvorada, também de Montes Claros, composto por Daniela Rocha, Jessica Antunes, Junio de Jesus e Wellington Rodrigues, com a composição “Deus do impossível”. Todos os três vencedores ganharam um troféu.

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Na abertura e durante o intervalo para a apuração das notas, o público presente pôde assistir à apresentação da Banda da 11ª Risp. Uma banda instrumental formada por servidores do Sistema Prisional de várias unidades da região e quem vêm ensaiando para apresentações em eventos oficiais.

Estiveram presentes no evento representantes das forças de segurança, membros da sociedade civil, familiares e amigos dos participantes, que se reuniram para torcer por seus candidatos favoritos.

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Festipri 2019

Cerca de 350 presos de 50 unidades prisionais da Sejusp e Apacs estão participando das seis etapas do Festipri 2019. O festival nasceu em 2006 com o nome Festival da Canção Penitenciária (Festipen), envolvendo presos da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em 2015, a competição passou a ser denominada Festival da Canção Prisional (Festipri) e, em 2017, o projeto foi expandido para todas as regiões do estado.

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O evento tem como objetivo favorecer o processo de ressocialização dos indivíduos privados de liberdade por meio da musicalidade, além de incentivar e revelar talentos musicais dentro do Sistema Prisional. A iniciativa é uma promoção da Diretoria de Ensino e Profissionalização do Depen-MG. A última etapa desta edição do Festpri será realizada no próximo dia 28/9, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Texto: Poliane Brandão

Fotos: Dirceu Aurélio