Buscar atividades interessantes para preencher o tempo dos jovens e trabalhar a ressocialização durante o período de férias escolares não é uma tarefa fácil. Mas a direção do Centro Socioeducativo São Jerônimo, em Belo Horizonte, conseguiu ocupar o tempo que seria ocioso com uma prática esportiva que tem animado as adolescentes que cumprem medida socioeducativa na unidade. Em parceria com a Associação Natividade, as jovens estão aprendendo a dar as primeiras manobras em cima do skate.

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As aulas acontecem na quadra da unidade durante todo o mês de janeiro, duas vezes por semana, com cerca de duas horas de duração. As jovens chegam ansiosas para a oficina. A maioria nunca havia tido contato com o esporte que, recentemente, ganhou status de olímpico e será disputado já neste ano nas Olimpíadas do Japão.

Devidamente equipadas com joelheiras, capacete e cotoveleiras, as adolescentes aprendem os primeiros passos para andar em um skate. Após um alongamento, as meninas fazem alguns exercícios de aquecimento onde trabalham o equilíbrio, a força para saltar, além de técnicas para se equilibrarem e cuidados para não caírem.

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Coordenador do projeto Conexão SK8, que dá aulas de skate para iniciantes que vivem em vulnerabilidade social, Rafael Diniz explica que tenta aliar os fundamentos da modalidade com ensinamentos para a vida das alunas. “Como uma prática urbana, o skate traz muitos ensinamentos ao nosso cotidiano, como por exemplo o cair. Hoje, todo mundo que está no socioeducativo caiu porque errou em alguma coisa na vida”, pondera Rafael. “Mas cair, todo mundo cai. Só que o skate vai ensinar a elas como se levantar dessa queda, e é isso que diferencia o sucesso entre as pessoas: não é o cair, mas o como se levantar”.

O instrutor acrescenta que a ideia é sempre contribuir para o bem-estar físico e para a ressocialização das alunas, com o desenvolvimento de virtudes por meio da prática. “Estamos bem satisfeitos em poder trabalhar com as meninas do socioeducativo nessa iniciação à prática do skate. Antes de ser uma modalidade esportiva, o skate é uma forma de se apropriar das cidades e dos espaços públicos. Mesmo sendo uma prática individual, sempre existe um coletivo de pessoas que está ali se ajudando. E esse ato de ajudar o outro é também um valor que a gente sempre traz para dentro da aula”, completa.

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Psicóloga por formação, a diretora de atendimento da unidade, Ana Carolina Roriz, entende a prática esportiva como um instrumento de desenvolvimento humano e de inclusão social, além de uma importante ferramenta motivadora do aprendizado. “Eu vejo que a oficina tem um efeito muito positivo no comportamento das adolescentes, um efeito terapêutico, de interação e de gasto de energia. Principalmente neste período em que estão de férias e não frequentam a escola, é muito importante que elas tenham atividades que acrescentem e proporcionem uma interação amistosa entre elas”, explica.

Internada na unidade há cerca de nove meses, Larissa Santos*, de 17 anos, está participando da oficina e contou que a experiência tem sido muito proveitosa. “É muito legal, além de a gente aprender coisas novas. Lá fora eu não praticava esporte e aqui dentro estou tendo essa oportunidade. Estou gostando muito dessa chance”, diz.

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Parceiros

O Conexão SK8 tem a finalidade de realizar oficinas gratuitas de skate para crianças e adolescentes em vulnerabilidade social com o objetivo de promover a iniciação esportiva, bem como difundir a prática e os valores de um esporte que conquistou recentemente o status de olímpico.

Viabilizado por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, o Conexão SK8 é um dos projetos da Natividade, associação sem fins lucrativos que preza por atividades que estimulem a cultura corporal do movimento e incentivem a prática do esporte, da cultura e do lazer.

* O nome é fictício para preservar a identidade da adolescente, segundo determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Texto: Poliane Brandão

Fotos: Dirceu Aurélio

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