Foram inaugurados nesta quarta-feira (10/6) o polo universitário e o núcleo de ensino do Complexo Penitenciário de Ponte Nova (CPPN), na Zona da Mata. O polo universitário é resultado de um termo de cooperação técnica entre a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), e a Universidade Norte do Paraná (Unopar). A iniciativa vai beneficiar, inicialmente, duas detentas e 17 detentos da unidade prisional, com bolsas de estudo parciais.

Os 19 futuros alunos já estão pré-matriculados nos seguintes cursos: Administração, Gestão de Produção Industrial, Teologia, Marketing, Gestão Ambiental, Pedagogia, Letras, Logística, Gestão Hospitalar, Geografia e Recursos Humanos. Eles prestaram o Enem Prisional ou o vestibular da instituição e obtiveram notas para entrada na universidade. Por serem do regime fechado, com a instalação do polo universitário, terão a chance de fazer um curso superior.

A Unopar reformou integralmente uma sala do Complexo Penitenciário e a equipou com mesas individuais, área de estudo e cinco notebooks, dotados de uma internet veloz, mas com acesso somente ao conteúdo pedagógico. Os alunos receberão também material didático impresso, para que possam aproveitar todo o tempo disponível, fora do horário de acesso aos computadores.

Já o núcleo de ensino foi erguido por meio de verbas da própria unidade prisional. É um local com uma sala para a pedagoga da unidade e uma sala multiuso, na qual há uma estante com livros de literatura e obras de referência e mesas para estudos individuais e em grupo. Neste núcleo está prevista a instalação de computadores para o oferecimento de cursos técnicos, por meio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) - Campus Ponte Nova.

As duas obras foram executadas com mão de obra dos detentos da unidade prisional. Estes dois novos espaços de conhecimento e formação educacional foram denominados Projeto Athena, em homenagem à deusa grega da sabedoria, da inteligência e das artes.

A diretora de Atendimento do Complexo Penitenciário, Aline Araújo, reforça que a educação é o caminho para os presos terem um futuro melhor. A servidora tem 11 anos de experiência na unidade prisional e analisa a parceria do Depen-MG com a Unopar como uma grande conquista. “Esse salto para o ensino superior é muito importante para o preso, seus familiares e a sociedade. Estamos quebrando preconceitos. É um momento de grande felicidade para todos”, reflete Aline Araújo.

No polo universitário o preso poderá fazer cursos a distância de outras instituições de ensino. Existe ainda a possibilidade de os presos prestarem novamente o Enem Prisional, para tentarem a obtenção de bolsas de estudo com descontos maiores.

O gestor do polo da Unopar no Complexo Penitenciário, Pedro Victor Rodrigues, considera o projeto uma importante conquista para a formação educacional das pessoas privadas de liberdade. “Estamos muito orgulhosos da implantação dos cursos a distância dentro da unidade prisional. É uma iniciativa pioneira na nossa instituição”, explica o gestor.

Reencontro

Douglas dos Santos Freitas, 29 anos, está preso há um ano e cinco meses no Complexo de Ponte Nova e foi lá que obteve o certificado de conclusão do ensino médio, por meio do Exame Nacional de Certificação de Competência de Jovens e Adultos (Enceja). Ele voltou a estudar dentro do Complexo, no segundo endereço da Escola Estadual Professor Raymundo Martiniano Ferreira. Após a certificação, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio para detentos do Sistema Prisional (Enem PPL) e conseguiu classificação para o curso de Gestão de Produção Industrial.

O detento atribui grande parte do seu empenho nos estudos a um encontro inusitado. “Meus professores de Artes e Matemática, do tempo de adolescente, trabalham atualmente na escola do presídio. Reencontrá-los, em sala de aula, foi uma forte emoção. Eles me incentivaram a persistir nos estudos e seguir em frente”, relata Douglas Freitas.

Ana Paula Sérgio Lisboa, 25 anos, futura estudante de Gestão Hospitalar, parece ter tido um encontro consigo mesma. “Muita gente pensa que ser preso representa o fim, para mim foi o recomeço. Vou agarrar com tudo a oportunidade de fazer um curso superior. A pior coisa é estar longe das pessoas que se gosta”, revela.

Outro detento que concluiu o Ensino Médio na unidade prisional foi Maurício Caetano Soares Fonseca, 23 anos. Ele optou pelo curso de Pedagogia por acreditar na educação como uma forma de transformação das pessoas e do mundo. “Minha escolha teve também a influência da nossa pedagoga, a Rita de Cássia, que com seu profissionalismo e dedicação conquista os alunos. Senti vontade de seguir seu exemplo”, reflete o futuro pedagogo.

Dos 19 detentos classificados para os cursos de graduação a distância da Unopar, oito concluíram o ensino médio na escola estadual instalada no Complexo Penitenciário de Ponte Nova, dotada de quatro salas de aula.

Texto: Bernardo Carneiro

Fotos: Divulgação Sejusp