Luiz Freire*, 16 anos, deu entrada no Centro Socioeducativo (CSE) de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, no dia 29 de maio de 2020, quando mal sabia assinar o próprio nome. Dentro da unidade, o jovem começou a ter aulas remotas, devido à pandemia, e até o dia 4 de julho, quando findou a sua medida de internação provisória, tinha enfim aprendido a ler e escrever. A educação é obrigatória durante o cumprimento das medidas socioeducativas de internação e provisória. Luiz, assim como todos os adolescentes que cumprem medida nas unidades administradas pela Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo (Suase), da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), precisa estudar enquanto cumpre medida.

Ao chegar ao CSE de Patos de Minas, durante a avaliação pedagógica, a equipe constatou que o jovem não havia adquirido habilidades de escrita e leitura e tinha dificuldades em raciocínio lógico e nas operações básicas de matemática. Desde o primeiro dia internação, Luiz já começou a assistir as aulas, surpreendendo a todos da unidade com sua disposição e desenvolvimento.

O adolescente participou de todas as atividades propostas, mesmo com as defasagens de ensino, sendo o aluno destaque em um dos cursos ofertados pela unidade, "Conectados com o Amanhã", da organização Junior Achievement. Por mais que não quisesse estar no CSE de Patos de Minas, Luiz conta que na unidade pôde novamente se voltar para os seus próprios sonhos: “Eu sempre quis ser professor de informática ou trabalhar na área, e achava que isso era impossível ou fora da minha realidade. Mas aqui eu pude ver isso no meu futuro outra vez”.

Trabalho multidisciplinar

O Centro Socioeducativo de Patos de Minas é destinado a adolescentes encaminhados para cumprir medida de internação provisória, geralmente um período curto. Independentemente do período de cumprimento da medida, desde a entrada dos jovens nas unidades são disponibilizados serviços técnicos nas áreas de psicologia, serviço social, pedagogia, terapia ocupacional, medicina, enfermagem, odontologia e direito, além de acompanhamento escolar, oficinas em diversas modalidades e atividades nas áreas de inclusão produtiva, esporte, cultura e lazer.

A unidade socioeducativa de Patos segue ofertando ensino para os adolescentes, mesmo durante a pandemia. As aulas deixaram de ser presenciais e estão acontecendo de forma on-line em turmas pequenas, o que traz um maior aproveitamento. Seguindo a rotina de uma escola normal, de segunda a sexta-feira, das 7h às 11h, os jovens em cumprimento de medida assistem as aulas virtuais, com uma professora lecionando em tempo real do outro lado da tela.

De acordo com o diretor-geral do CSE de Patos de Minas, Marcos Vinicius Barbosa, os adolescentes são acompanhados pelos agentes socioeducativos durante a aula, mas quem controla a disciplina são as professoras, a distância. “Elas são bem aplicadas e se necessário chamam a atenção do adolescente. Até o momento não houve transgressão disciplinar em horário de vídeo-aula. Os adolescentes têm demonstrado bastante interesse e as professoras estão inovando para manter o entusiasmo deles”, conta o diretor.

As professoras são as mesmas que trabalhavam presencialmente no segundo endereço da Escola Estadual Deiró Eunápio Borges, instalada no CSE. Os adolescentes são acompanhados pedagogicamente todos os dias pelas profissionais da educação, que informam a direção de atendimento da unidade socioeducativa sobre o desenvolvimento de cada um durante as aulas.

Ensino Remoto

A Diretoria de Educação e Formação Educacional, Profissional, Esporte, Cultura e Lazer da Suase precisou se adaptar para manter a atividade educacional nas unidades socioeducativas. Com o apoio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), foram desenvolvidas novas modalidades de ensino não presencial, de acordo com a demanda e a capacidade das unidades socioeducativas. Segundo o gerente de Formação Educacional da Suase, Edilton Araújo, as ações utilizam todos os recursos tecnológicos possíveis.

“Estamos a cada dia aprendendo e construindo novos meios para alcançarmos os adolescentes e jovens com as atividades escolares não presenciais. Buscamos padronizar os procedimentos levando em consideração as diferenças entre a medida de internação e a internação provisória, e as peculiaridades dos adolescentes. Em cada unidade temos uma pessoa de referência para receber e orientar a equipe sobre como o material escolar enviado deve chegar ao estudante”, explica Edilton.

Ensino Sócio 2 edt

Existem duas possibilidades de ensino. Em uma delas, as aulas acontecem em tempo real por meio de videoconferência, como no CSE de Patos de Minas, onde o professor encaminha atividades impressas aos estudantes e dá aulas ao vivo para os alunos. Nesses casos, a interação é maior entre os jovens e os professores, além de os alunos poderem tirar dúvidas a qualquer momento.

Na outra alternativa, os professores gravam vídeos de no máximo 20 minutos com o conteúdo da disciplina, e as aulas são intercaladas entre os vídeos e as atividades impressas encaminhadas pelos professores. Os profissionais que preparam e lecionam as aulas são os mesmos que trabalhavam presencialmente nas unidades socioeducativas. Isso facilita o plano de aula e o acompanhamento, já que os professores conhecem bem os alunos e constroem o material de modo a alcançar cada estudante de acordo com suas necessidades específicas.

* Nome fictício para preservar a identidade do adolescente, conforme recomendação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Texto: Fernanda de Paula

Fotos: Divulgação Sejusp

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