Transformação pelo cuidado. Este é um dos aprendizados que os jovens internados no Centro Socioeducativo de Montes Claros, no Norte de Minas, têm adquirido. Há cerca de um ano e meio foi iniciado o projeto “Plantando Sonhos e Colhendo a Liberdade”, com o objetivo principal de oferecer conhecimentos técnicos voltados para o plantio e a produção orgânica de hortaliças e plantas medicinais. No início, o trabalho foi árduo para transformar uma terra bruta e sem vida em um solo fértil e produtivo. Nesta quarta-feira (7/10), depois de muito trabalho e dedicação de todos, aconteceu a primeira doação da produção. 

Cebola, rúcula, alface e coentro vão enriquecer o cardápio do Centro Feminino de Longa Permanência - Lar das Velhinhas, que abriga cerca de 60 idosas em Montes Claros. Supervisora do local, Maria de Jesus disse não ter palavras para expressar a alegria com a doação. “É muito difícil recebermos este tipo de doação e faz muita diferença para a gente. Ficamos muito felizes por garantir para os próximos dias uma alimentação mais rica e colorida no prato das nossas ‘meninas’ aqui do lar”, conta. 

Participante do projeto, Lucas Matos*, 17 anos, foi com a equipe do Centro Socioeducativo levar as doações para o Lar das Velinhas. Ele relata que, agora, valoriza ainda mais o trabalho que tem feito. “Eu tenho aprendido muito durante o curso e espero que ele seja útil na minha vida lá fora. Mas hoje, depois de ver que o fruto do meu trabalho está alimentando outras pessoas que precisam, pude perceber o quanto tudo isso é especial. Estou muito feliz em poder contribuir de alguma forma”, comemora o jovem.

O diretor-geral do Centro Socioeducativo de Montes Claros, Giulleano Bassan, explica que várias unidades socioeducativas estão, atualmente, investindo no trabalho com hortas, e o resultado tem sido muito positivo. “Estes projetos contribuem muito para a ressocialização dos jovens. A gente percebe que há um envolvimento e comprometimento muito grande deles, e isso é muito gratificante. Hoje pudemos presenciar a gratificação destes meninos ao doar o resultado do trabalho deles para alimentar as senhoras do Lar das Velhinhas. Eles sentiram como é bom fazer o bem e puderam ver como as consequências de um ato bom são bem diferentes daquelas que vêm com o envolvimento na criminalidade”, conclui.

O Projeto

Quem coordena as atividades na horta é o agente de segurança socioeducativo Charles de Oliveira Marques, que é técnico agrícola, formado pela Escola Agrotécnica Federal de Januária. Ele conta que além de conscientizar os jovens para a importância dos alimentos orgânicos e proporcionar formação profissional, com grandes oportunidades de absorção no mercado de trabalho, o projeto é rico em mensagens que vão sendo descobertas e absorvidas pelos participantes. “Os jovens aprendem a cuidar do solo, a produzir adubos orgânicos e a construir um sistema de irrigação. Além disso busco sempre trabalhar questões sobre respeito ao próximo, trabalho em equipe e responsabilidade”, detalha.

Ao longo de quase um ano e oito meses de atividades, cerca de 60 jovens já foram capacitados pelo projeto. Renato Flores*, 17 anos, é um dos adolescentes que estão atualmente trabalhando e aprendendo na horta. Ele conta que vivia na zona rural e que já tinha alguma experiência com o cultivo de hortaliças, mas o que tem aprendido está fazendo muita diferença. “Eu gostava do trabalho com a terra antes, mas não tinha muito conhecimento. Agora, quando eu voltar para casa, vou poder ajudar muito mais e ainda compartilhar o que aprendi aqui. Estou muito feliz”.

*Nomes fictícios para preservar a identidade dos adolescentes, conforme recomendação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Texto: Poliane Brandão

Fotos: Divulgação Sejusp

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