Enrolar a palha, encher de fumo, prender o cigarro com argola plástica e aparar a ponta. Esse é o processo artesanal reproduzido por detentos do Presídio de São Joaquim de Bicas I, na região Central de Minas, para a Backwood Palheiro Tabacaria, sediada em Igarapé. A linha de montagem teve início em fevereiro de 2020 com dez presos e, atualmente, já emprega 70 homens. Uma média de 35 a 40 mil itens unitários é executada por dia.

Todos os procedimentos acontecem manualmente, exceto a fase de enchimento, que conta com o auxílio de uma máquina criada pela empresa. Os custodiados trabalham na unidade prisional, em um galpão, onde funcionava a cozinha antes de as refeições serem fornecidas por firma terceirizada. Eles são escoltados por policiais penais, enquanto estão na oficina, e acompanhados de perto pelos empregadores.

O expediente dos detentos envolvidos na atividade começa às 7h30 e vai até às 16h30. Eles são remunerados com três quartos de um salário mínimo, valor este dividido em partes iguais entre o interno, a unidade prisional e o pecúlio - espécie de poupança que será sacada pelo custodiado quando ganhar liberdade. Além disso, há remição de pena pelos serviços prestados: a cada três dias trabalhados, um é subtraído da condenação.

Vantagens

Segundo o diretor do Presídio de São Joaquim de Bicas I, Ricardo Pereira, "o trabalho prisional somente traz benefícios aos presos". "Eles aprendem uma profissão, ganham uma nova experiência, são capacitados, e o principal: deixam a ociosidade - o que só favorece, tanto psicologicamente, quanto financeiramente", explica.

O gestor acrescenta que a rotina da Polícia Penal também é facilitada pela ocupação dos internos. "O comportamento dos recuperandos melhora, as faltas disciplinares diminuem drasticamente, pois eles não têm tempo para pensar em situações que possam causar dificuldades à convivência no ambiente prisional", expõe.

Para as companhias, a contratação de mão-de-obra do tipo é igualmente vantajosa. Walisson Maciel, sócio da Backwood, aponta a inexistência de vínculos trabalhistas, a possibilidade de acompanhar a manufatura in loco e o “carinho maior” por parte dos trabalhadores, ao desenvolver a tarefa, como alguns dos atrativos primordiais.

"Mais gente deveria investir em parcerias como esta, visto que muitos segmentos poderiam funcionar nesta ou em outras unidades. É bem viável para o empresário, basta montar um local de trabalho no presídio", afirma Maciel.

Futuro

O custodiado Guilherme Alves, de 39 anos, atua na produção artesanal de palheiros, no Presídio de São Joaquim de Bicas I, desde o início do projeto. Ele já planeja montar um empreendimento próprio no ramo quando deixar a unidade.

"O serviço demonstrou para mim que posso sair daqui e abrir um negócio na área. Mesmo para alguém egresso do sistema, não é muito caro adquirir uma fábrica legalizada. Essa é uma das prioridades em aplicar o dinheiro que recebo, além de ajudar minha família, porque tenho filho pequeno", revela.

Texto: Paula Machado

Fotos: Divulgação Sejusp