Seis oportunidades de emprego e a chance de um novo recomeço para adolescentes que cumprem ou acabaram de deixar a medida socioeducativa em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Os jovens foram selecionados para trabalhar como menores aprendizes em uma grande rede de supermercados, Bahamas, e agora têm a oportunidade de replicar os conhecimentos profissionalizantes adquiridos dentro das unidades socioeducativas de internação e de semiliberdade no município, no novo emprego.

A contratação efetiva aconteceu nesta quinta-feira, 14/1, e foi intermediada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que também será responsável pelo acompanhamento profissional dos adolescentes. A carga de trabalho será de 20 horas semanais, para garantir que eles continuem a cumprir, integralmente, o horário escolar. Uma das novidades é que, além do trabalho “prático” no supermercado, acontecerá um reforço de conteúdo e aprendizado, duas vezes por semana, no Senac.

Para concorrer às vagas, os jovens passaram por treinamentos no Centro Socioeducativo de Juiz de Fora e na Casa de Semiliberdade Betânia, em dezembro passado. É que dos seis jovens selecionados, quatro cumprem medida de internação, um de semiliberdade e outro é egresso, mas que continuou indo ao sistema socioeducativo para terminar a capacitação. As atividades, chamadas de Jovens Protagonistas do Futuro, os prepararam para as entrevistas de emprego, comportamento e atuação laboral, além de abordagem a questões de formação pessoal e cidadã.

José Guilherme*, 18 anos, é um dos novos contratados. Recebeu a notícia do novo emprego junto com a mãe, Luíza Pires*, durante uma visita no Centro Socioeducativo. “Eu fiquei muito feliz e ele muito animado. Os olhos dele se encheram de lágrimas. Eu vejo uma grande transformação no meu filho desde quando ele entrou aqui. Essa chance chega para completar a medida e ajudar ele a sair daqui com uma nova vida”.

Para José, a meta é aproveitar o máximo possível a oportunidade e ter um futuro estável. “Eu estou muito alegre com esse emprego, vou poder ajudar a minha família e ter uma profissão. Participar do curso foi muito importante para saber, por exemplo, como me portar. Lembro da professora nos dizendo para ter paciência e mesmo nervoso consegui me acalmar na minha primeira entrevista de emprego. Agora estou ansioso para começar a trabalhar, orientando clientes, embalando produtos e arrumando os estoques. É de baixo que tudo começa, outra coisa que aprendi nas aulas”, conta o jovem.

Tão animado quanto os jovens está o diretor do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora, Osnério Abreu. Como ele destaca, educar e interromper a trajetória infracional são metas da gestão. “Com essas parcerias conseguimos proporcionar para o adolescente a oportunidade de participar do projeto. A profissionalização é um dos eixos da medida socioeducativa e, para mim, é um dos mais importantes, porque ao término da medida, esse adolescente vai sair empregado e com a possibilidade de continuar contratado pela empresa”.

Tratativas

Para que tudo desse certo para os jovens, um grande esforço foi iniciado em setembro do ano passado, por meio de contatos e reuniões do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora com o Ministério Público do Trabalho. O pano de fundo dessas contratações é o Programa de Incentivo à Aprendizagem de Minas Gerais – Descubra. Uma parceria do Governo do Estado - com grande participação da Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) - com o Ministério Público de Minas Gerais. O Descubra foi implantado em agosto de 2019 e tem, em Juiz de Fora, sua primeira expansão para o interior.

A direção do Bahamas reconhece a importância de atuar na reinserção desses jovens e afirmou, por meio de nota, que tem preparado seus funcionários para receber os novos companheiros de trabalho. Segundo a rede de supermercados, os profissionais da empresa estão engajados, comprometidos com esta causa. “Nossos líderes se desenvolvem tendo um olhar mais minucioso diante das necessidades e potencialidades de cada um e, nas equipes, fortalecem o senso de cooperação e comprometimento. Temos certeza que juntos com os nossos parceiros podemos desenvolver um trabalho que fará a diferença”.

O Ministério Público do Trabalho, por meio do coordenador do Projeto de Inserção de Aprendizes no Trabalho, José Tadeu de Medeiros Lima, se prontificou a criar uma cota nas empresas de Juiz de Fora para atender adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa para que iniciativas, como a do Bahamas, possam ser replicadas.

*Nomes fictícios para preservar as identidades dos entrevistados, conforme recomendação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Texto: Fernanda de Paula

Fotos: Divulgação Ascom - Sejusp