Sustentabilidade, ressocialização e solidariedade. Esses são os pilares de um projeto em execução há cerca de um ano no Presídio de Coronel Fabriciano I, no Vale do Rio Doce. Paletes de madeira que seriam descartados e virariam lixo no meio ambiente estão sendo transformados, pelas mãos dos presos, em brinquedos e móveis, que são doados a instituições assistenciais do município. Do material reaproveitado são produzidos carrinhos, instrumentos musicais, jogos pedagógicos, camas, bancos, prateleiras e mesas. O trabalho, benéfico aos detentos, à natureza e também a quem recebe as doações, é fruto de uma parceria entre a unidade prisional, a siderúrgica Usiminas - que anteriormente não tinha uma destinação útil aos paletes - e a Madeireira Palowa - que faz a doação de madeiras MDF.

Cerca de 15 presos do regime fechado trabalham diariamente, de segunda a sexta-feira, na marcenaria instalada no presídio. Só no ano passado, mais de 600 peças foram produzidas a partir do material recebido das empresas. E a solidariedade só se multiplica. Toda a produção é destinada a instituições que atendem crianças e idosos, como creches e asilos do município.

O diretor-geral do Presídio de Coronel Fabriciano I, João Batista Ferreira, explica que alguns dos presos que atuam na marcenaria já tinham experiência na área antes de serem privados de liberdade, possibilitando trocas diárias de conhecimento com os colegas, o que torna ainda mais produtiva a atividade. “Esse é um tipo de trabalho que possibilita a profissionalização do interno, para que ele possa retornar para a sociedade mais qualificado para mudar sua trajetória de vida. A gente sente que está, realmente, cumprindo nossa missão de ressocializar os acautelados”, afirma.

Além do trabalho ser benéfico para os presos e para a comunidade local, o diretor acrescenta que esse tipo de atividade impacta diretamente na segurança da unidade. “Há dois anos não temos nenhum registro de subversão da ordem ou qualquer situação que prejudique a segurança do presídio. E eu acredito muito que isso tem a ver com a nossa oferta de trabalho para os presos. Os internos se sentem valorizados e felizes por poder fazer algo não só por eles, mas pela sociedade e pela família", explica. "Eles realizam um trabalho social, aprendem uma profissão e passam a influenciar positivamente no comportamento de outros presos que passam a querer também uma oportunidade”.

Troca de experiências

Antes de ser preso, Leandro Moreira, 37 anos, era luthier - profissional que constrói, restaura e dá manutenção a instrumentos musicais de cordas e sopros em madeiras - e está na marcenaria contribuindo com o seu conhecimento desde o início. Ele conta que é muito bom poder usar um pouco da sua experiência para levar alegria e conforto para outras pessoas, além de aprender novas habilidades. “É muito importante para mim poder contribuir positivamente de alguma forma. Além de usar meu conhecimento e criatividade, o trabalho aqui ajuda em todos os sentidos, melhorando nossa concentração, trazendo bem estar, fazendo o tempo passar mais rápido e, principalmente, levando alegria e distração para as crianças”, conta. Leandro diz ainda que está ansioso para que um outro projeto dê certo: uma oficina de luthier dentro da unidade, na qual será o facilitador.

Policial penal na unidade, Vera Lage é a responsável pela coordenação de produção da marcenaria. Ela explica que antes de as atividades terem início, os presos passaram por uma capacitação durante 15 dias em um curso básico de marceneiro oferecido por outra empresa parceira, a Criarte - Móveis Planejados. Todos receberam certificados e, com a prática diária, estão se aperfeiçoando cada vez mais. “Todos se dedicam com muito empenho e carinho à atividade. A gente consegue perceber a satisfação pessoal que eles têm em fazer algo que gera bem estar para a sociedade, orgulho para suas famílias e os qualificam profissionalmente”, comemora.

Grato pela oportunidade que está tendo de trabalhar, Wilson Silva, 45 anos, nunca havia tido experiência com marcenaria, mas está feliz com o que tem aprendido. “Desde que eu tive a chance de participar do projeto, tenho me sentido uma pessoa melhor pelo fato de ajudar a levar um pouco de alegria para crianças que estão lá fora. Sem contar que, quando estamos ocupados e nos sentindo úteis, o tempo passa mais rápido e torna a experiência aqui dentro menos pesada e difícil”, relata.

Pela atividade laboral, os detentos recebem remição da pena: a cada três dias trabalhados, um é remido da condenação.

Texto: Poliane Brandão

Fotos: Divulgação Sejusp