Nestes dias de pré-carnaval é comum ouvirmos os sons de tamborins, repiques e tantãs ecoando pela capital. Mas para os moradores do Ribeiro de Abreu, na região Nordeste de Belo Horizonte, este tipo de sonoridade já faz parte da rotina de toda a vizinhança do Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC), da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), que atua na região. Duas vezes por semana, cerca de 30 jovens que participam do programa de redução de homicídios Fica Vivo! se reúnem para a aula da oficina de percussão que acontece no espaço. Esta oficina, inclusive, já virou o “ritmo” oficial de um bloco de carnaval da capital.

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O “Sem manicômios e Sem prisões” já desfilou pelo Santa Tereza no pré-carnaval de 2018, acompanhado de instrumentos de sopro e da equipe de saúde mental de alguns espaços de saúde. Neste ano, quase todos os alunos da oficina de percussão do Ribeiro de Abreu tocaram no bloco. Esta é a segunda vez que a parceria acontece.
A proposta do grupo “Sem Manicômios”, é fazer discussão social em torno do encarceramento e luta antimanicomial. Por isso, além do ritmo, os jovens do Ribeiro de Abreu também se envolvem com o tema. De acordo com a Gestora Social do CPC local, Mariana Aranha, a preparação para a participação carnavalesca incluiu rodas de conversa com os jovens sobre o tema e também sobre outras questões como juventude negra.

“A gente aposta na circulação dos adolescentes para que eles possam acessar espaços da cidade que eles desconhecem e tenham, de fato, direito à toda a cidade. A participação no bloco dá aos meninos e meninas um empoderamento de circulação pela cidade que também pertence a eles”, afirmou Mariana.

A oficina
Sergio Soares, o Serginho ou “paizão” como é conhecido pelos jovens, é o oficineiro que há 12 anos atua no Fica Vivo! e contribui para a prevenção por meio da música. Ele conta como o trabalho vem transformando os atendidos e mostrando que respeito não se faz com medo. “Conseguimos com o tempo mostrar a eles que a principal arma que temos é o diálogo e que ser respeitado por um ato admirável é melhor do que pelo medo”, disse Serginho.

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De acordo com o oficineiro do CPC Ribeiro de Abreu a relação é sempre de muita respeito e cumplicidade. “Às vezes, pela forma como os jovens tocam os instrumentos é possível saber se estão com alguma dificuldade na vida”.

Lalá, ou Laiane Souza, de 24 anos, participa da oficina há 12 anos e disse ter amado a experiência no carnaval deste ano em BH. “Foi um orgulho muito grande quando vimos as pessoas dançando, nos admirando e nos respeitando pelo cortejo. Foi fantástico!”, contou animada.

Outro que está no Fica Vivo! há quase 14 anos é Guilherme Luis, de 24 anos. Ele contou que o programa mudou completamente a sua vida e que não consegue nem se lembrar do jovem com problemas que era. “Sou muito grato ao Serginho e ao Fica Vivo!. O Serginho é um pai pra mim e eu acredito que sem os conselhos dele, as conversas e a oficina eu não estaria aqui hoje pra contar essa história”.

A oficina não é de formação profissional, mas é possível ver nesses jovens algumas promessas na carreira musical. “Com estudo e dedicação os meninos e as meninas podem chegar onde quiserem”, finalizou orgulhoso. Durante as aulas da oficina ele trabalha ritmos populares brasileiros como samba, maracatu, marcha e até o funk. Deixando também os jovens livres para criação novas batidas.

A oficina de percussão existe no CPC Ribeiro de Abreu desde 2005, trabalhando com os jovens não somente as batidas dos tamborins e tantãs, mas também reflexões sobre acesso a direitos, cultura, questões do bairro e assuntos do cotidiano. Desde sua implantação no CPC cerca de 500 jovens já passaram pela atividade.
O Fica Vivo!

O programa Fica Vivo!, desenvolvido pela Sesp, é um programa de prevenção que possui foco na prevenção e redução de homicídios de adolescentes e jovens. Ele atua em áreas com registros de índices elevados de criminalidade violenta.

No Estado, o Fica Vivo! atende, em média, 10 mil jovens por mês e realiza cerca de 4 mil atividades mensais. Desse total, o Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) do Ribeiro de Abreu atende aproximadamente 450 jovens da região, em 22 oficinas de arte, esporte, dança e música.

Matéria: Poliane Brandao

Fotos: Carlos Alberto/Imprensa-MG