As salas de aula do Presídio de Coronel Fabriciano estão repletas de homens que estão cumprindo pena mas desejam mudar o curso das suas vidas e transformar suas trajetórias. Com o apoio de uma rede de voluntários a unidade prisional está conseguindo estimular os hábitos de estudo e tem desenvolvido projetos para incentivar a leitura entre os presos. Dentre eles, a implantação do projeto Remição Pela Leitura e as aulas preparatórias para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). 

Na próxima semana – nos dias 8 e 9/10 - será aplicado em todo o país o Encceja PPL, que é o exame para pessoas privadas de liberdade, que contempla unidades prisionais e socioeducativas. A prova é uma forma de obter os certificados do Ensino Fundamental e Médio para quem não concluiu os estudos na idade adequada. São quatro provas objetivas com 30 questões de múltipla escolha e uma redação, de acordo com o nível de ensino de cada candidato. Para que os alunos do presídio estejam mais confiantes para realizar o exame, um cursinho preparatório foi pensado para ajudar os 72 presos que se inscreveram.

Com a participação de professores voluntários, que duas vezes por semana vão à unidade lecionar, os detentos foram divididos em duas turmas e recebem aula de história, ciência e redação. Aulas de geografia são ministradas por outro custodiado, com formação na área.

Alex Junior Augusto Silva, 19 anos, é um dos participantes. Para ele, poder voltar a estudar no presídio era algo que ele não imaginava e que tem mudado seu comportamento. “Educação para mim é aprender, por mais que tenhamos errado no passado, podemos tentar de novo. Eu não tenho vergonha de falar que sou um reeducando. Eu tenho certeza que vou sair melhor, pretendo fazer uma faculdade de direito e ser uma pessoa do bem, com novas perspectivas”.

As iniciativas educacionais do Presídio de Coronel Fabriciano estão atingindo 137 presos da unidade, representando 30% da população carcerária local. Os projetos são coordenados por dois agentes de segurança penitenciários: Samyra Granato Azevedo e Marcos Oliveira Moraes. Segundo Samyra, fazer parte desse processo causa grande motivação. “Trabalhando no Núcleo de Ensino da unidade eu pude perceber como é grande a carência de estudo entre os presos. Poder contribuir para que eles adquiram um mínimo de conhecimento e educação é muito gratificante, pois eles terão uma oportunidade a mais ao ganharem novamente a liberdade”.

Para o diretor-geral da unidade prisional, João Batista Ferreira, é muito importante o papel do presídio em promover uma mudança. “Mais cedo ou mais tarde, o indivíduo privado de liberdade estará na rua e nossa função é custodiar e ressocializar. Por meio da educação e do trabalho nós retiramos o preso da ociosidade, e isso tem trazido reflexos muitos positivos para o funcionamento da unidade; confusões e motins praticamente acabaram depois que esses projetos foram implantados”.

Remição Pela Leitura

Desde novembro do ano passado o projeto é executado na unidade prisional. Atualmente 65 presos participam e contam com uma biblioteca com mais de 800 livros. As obras foram doadas recentemente pela Biblioteca Municipal, que realizou uma campanha para arrecadar os materiais.

Segundo o diretor-geral, quando o projeto começou era comum a unidade prisional pegar muitos livros emprestados na biblioteca da cidade que, então, teve a iniciativa de doar os volumes para facilitar o trabalho no presídio.

A atividade consiste na leitura de uma obra literária no prazo de 22 a 30 dias e, posteriormente o custodiado escreve uma resenha sobre o livro. Os trabalhos são revisados por servidores e possibilitam a remição de quatro dias de pena, com o limite de 12 obras por ano, de acordo com a Recomendação 44 do Conselho Nacional de Justiça.

Por Fernanda de Paula

Fotos: Divulgação Ascom - Sejusp