Trabalhar a educação de forma diferenciada e ainda ajudar o próximo. É isso que a Penitenciária de Contagem I (Nelson Hungria) e a Escola Estadual Professor Paulo Freire, que funciona no local, estão buscando trabalhar com os detentos da unidade por meio do projeto Costurando Sentimentos. Durante todos os sábados letivos, 15 presos, sendo 11 alunos da escola e outros quatro voluntários colocam a mão na massa e produzem colchas, fronhas e mantas que serão doados para os 58 idosos que vivem no Lar Maria Clara, também localizado no município.

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A produção teve início na segunda quinzena de agosto e se estenderá até dezembro. Para a fabricação dos itens são utilizadas 13 máquinas de costura da própria penitenciária, máquinas estas que também são utilizadas para a fabricação de máscaras de proteção contra o coronavírus.

A diretora da escola e responsável pela ação, Valdicéia Pavione, explica que o Costurando Sentimentos contribui agregando conhecimento aos participantes e para o processo de ressocialização. “Durante o trabalho são colocadas em prática também as teorias dos componentes curriculares, como por exemplo, a matemática, exigindo que se calcule a metragem dos tecidos para determinada quantidade de peças, a utilização das figuras geométricas, entre outras”, explica.

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E ela ainda acrescenta: “é visível o empenho deles para garantir a qualidade e a quantidade necessária de peças. Os resultados vão além da doação, trazendo assim benefícios para ambos, tanto para quem participa quanto para quem vai receber, já que ser solidário é aquecer o outro com o coração”.

Costurando Sentimentos

O Costurando Sentimentos é uma continuação de uma proposta do Estado de proporcionar aos alunos de todas as escolas estaduais mineiras os melhores sábados letivos de suas vidas. Anteriormente, os detentos participaram do Tecendo com o Coração e fabricaram toucas e cachecóis que foram doados a moradores de rua e ao próprio Lar Maria Clara.

O sucesso foi tanto que surgiu a ideia de continuar projeto similar de outra forma. E assim começou a nova produção. Os trabalhos se iniciaram a partir da doação de malhas e lanzinha recebidos pela diretora da escola, por meio de uma funcionária da Superintendência Regional de Ensino (SRE) e seu esposo, responsáveis pela intermediação junto a uma fábrica de jeans do Espírito Santo e da empresa BRTA Transportes.

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Carlos Felipe Soares, 34 anos, que cumpre pena na unidade desde 2019, é um dos participantes e destaca a importância da ação. “Além da parte educacional propriamente dita, o Costurando Sentimentos contribui com a ressocialização. É o sentir-se útil, ajudar o próximo, é doar o nosso tempo para o outro”. Até o momento, 67 colchas, 22 fronhas, 26 mantas e ainda três tapetes já foram produzidos. Carlos conta ainda que o trabalho é de mútua ajuda. “Enquanto uns estão cortando, outros estão nas máquinas costurando e outros dando o acabamento final ou até mesmo na limpeza”, explica.

O diretor de Atendimento e Ressocialização da penitenciária, Ury Ribeiro, corrobora com Carlos. “Para a unidade é de fundamental importância este tipo de projeto. A participação dos alunos e voluntários é importantíssima para a ressocialização, reinserção social e entendimento da sua participação no cotidiano dos não encarcerados”, destaca.

O diretor do Lar Maria Clara, Júlio César da Costa, explica que roupas de cama quase não chegam por meio de doação, muitas vezes precisam ser compradas, portanto o projeto irá garantir um alívio nas despesas, além de promover o acolhimento aos moradores do local. “Este projeto é extremamente importante, pois demonstra o carinho e o reconhecimento com nossos residentes, além de estreitar laços de amizade mesmo à distância. A produção vai fazer muita diferença na vida dos idosos, eles se sentem mais acolhidos”, conclui.

Texto: Lara Nassif

Fotos: Divulgação Sejusp