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Casamento coletivo de 26 presos é realizado em presídio de Ribeirão das Neves, reunindo diferentes histórias  

Os casais formalizaram legalmente a união e comemoraram a data em uma cerimônia ecumênica, na área intramuros do Presídio Inspetor José Martinho Drumond
 
Em um evento ecumênico realizado no Presídio Inspetor José Martinho Drumond, 26 casais mostraram que o amor supera circunstâncias desafiadoras. Nessa quarta-feira (28), os detentos oficializaram suas histórias afetivas — algumas com décadas de duração, outras mais recentes, todas elas marcadas pela esperança no futuro.

O casamento coletivo foi resultado de um trabalho conjunto envolvendo policiais penais, servidores da unidade, a Vara de Execuções Penais de Ribeirão das Neves e o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), com apoio dos familiares. Os casais haviam realizado o casamento civil no início do mês. 

O evento ecumênico foi conduzido por uma cerimonialista. A cerimônia foi animada por presos atuando como músicos, com teclado, guitarra, violão e bateria. O cenário foi o de um casamento no campo, com flores, passarela de madeira e altar ornamentado com tecidos brancos. Toda a produção foi financiada pelas noivas e familiares.


 
Para a superintendente de Humanização do Atendimento do Departamento Penitenciário, Ana Paula de Almeida Vieira Dolabella, oficializar a união dos presos com suas companheiras contribui para o fortalecimento dos vínculos afetivos e familiares. “Ações de apoio e promoção da família são essenciais como oportunidade de transformação e reinserção social”, avalia a superintendente.
 
Amores
 
São inúmeras as histórias dos relacionamentos, algumas iniciadas ainda na adolescência e outras mais recentes.  A noiva Rosângela Alves Souza*, 49 anos, revelou ter iniciado o relacionamento com seu marido quando ela tinha 15 anos, e ele 17. O casal tem uma filha de 29 e um neto de quatro anos, mas somente agora formalizaram a união. 


 
Já Lorraine Ribeiro Dantas*, 25 anos, contou que tem um relacionamento de apenas dois anos e uma filha de um ano e três meses. O marido foi condenado a 11 anos, mas ela garante que o amor vai fazer que eles sustentem a relação. “Ele faria o mesmo por mim, viria me visitar, enviaria kits e me aguardaria”, alega.

Para a juíza da Vara de Execuções Penais da comarca de Ribeirão das Neves, Bárbara Isadora Santos Sebe Nardy, o casamento foi uma demonstração clara do empenho dos policiais penais e servidores. Mesmo cumprindo suas tarefas cotidianas de segurança, eles providenciaram todos os documentos e procedimentos necessários para que as uniões fossem oficializadas.

Desejo
 
Durante os atendimentos psicossociais na unidade prisional, cerca de 120 detentos manifestaram interesse em formalizar relações antigas ou novas. Após análise documental, entrevistas e outros critérios, o número foi reduzido a 26 casais aptos para a cerimônia.

O Presídio Inspetor José Martinho Drumond dispõe de sete celas de visita íntima, cuja utilização requer a entrada em uma lista de espera. Os noivos já fizeram seus pedidos e esperam a vez.
                                
*Nomes fictícios usados para preservar a identidade da noiva e do noivo.

📄 Texto: Bernardo Carneiro

📸  Foto: Tiago Ciccarini