Imagens foram produzidas com celular, durante curso oferecido na unidade socioeducativa. As atividades incluíram visitas a um museu e o centro da cidade
A exposição de fotografia "O Mundão e Eu" foi uma das atrações do Festival Internacional de Cinema e Cultura da Diversidade (Festicid), realizado em Juiz de Fora, de 18 a 21/9. As imagens foram captadas por 13 adolescentes do Centro Socioeducativo do município, no decorrer de um curso de fotografia que contou com 10 encontros, mesclados por teoria e prática.
O curso é fruto de uma parceria entre a unidade e a Associação Cultural Cine Fanon, organizadora do Festicid, cujas aulas foram ministradas pela fotógrafa Lêda Bárbara Soares. Ele surgiu como continuidade de um projeto anterior de audiovisual, desenvolvido no centro socioeducativo pelo psicólogo Artur Duarte e os auxiliares educacionais Millena Fagundes e Matheus Xavier, no evento "Caminhos Literários".

Para a fotógrafa Lêda Bárbara Soares, o título da exposição “O Mundão e Eu” revela a tensão e o encontro entre o mundo exterior — vasto, desafiador e, muitas vezes, hostil — e a interioridade de quem busca novos caminhos. “Fiquei surpreendida como eles conseguiram, em tão pouco tempo, absorver a técnica e desenvolver uma percepção visual apurada. Tivemos uma ótima convivência e aprendi muito com os adolescentes. A fotografia se tornou para eles janela de liberdade”, refletiu a fotógrafa.
Descobertas
Os adolescentes foram muito além do aprendizado das técnicas de fotografia. Eles descobriram diferentes olhares sobre o mundo, que teve incentivo nas aulas e nas experiências visuais no Museu Mariano Procópio e, ainda, nas ruas do centro de Juiz de Fora. Nas fotos destes adolescentes, apresentadas em “O Mundão e Eu”, ficaram registrados objetos afetivos, sentimentos, desejos e a dualidade entre o momento de privação de liberdade ("mundinho") e uma nova perspectiva de possibilidades ("mundão").

Um dos incentivadores e apoiadores da oficina de fotografia, o psicólogo do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora, Artur Duarte, avaliou as oficinas como um processo muito rico e motivador, tanto para os adolescentes quanto para os servidores que acompanham, diariamente, o cumprimento das medidas socioeducativas. Ao longo da oficina, os jovens descobriram o encantamento da fotografia: o instante em que a luz, ao atravessar a câmera, revela mundos antes invisíveis. Foi no jogo entre sombra e claridade que perceberam a potência da linguagem fotográfica.
Por cuidado e proteção de seus caminhos futuros, os rostos dos jovens não aparecem, assim como seus nomes. No lugar da exposição direta, vemos objetos afetivos e cenas do cotidiano, que se tornam símbolos de identidade, memória e desejo.

Silvanei*, um dos participantes, compartilhou sua experiência: “Quando comecei o curso, eu não achei muito maneiro. Achei que não ia gostar, por ser um curso novo e eu não gosto de aprender coisas novas. Mas depois, a professora Leda começou a me ensinar e eu consegui ver o significado de enxergar coisas simples aqui dentro. E eu comecei a entender o significado do curso, de tirar foto. E comecei a aprofundar mais na fotografia e consegui fazer umas fotos maneiras, com significado legal. Acho que foi importante, porque pode abrir novas oportunidades, né? Postos de emprego, essas coisas, porque vai ter o diploma aí, o certificado. E foi bom também porque nós fomos lá fora no mundão, para esfriar a cabeça e dar valor à nossa liberdade, que é o que nós temos de mais importante.”
Gleidson*, outro adolescente do curso, também destacou o impacto da experiência: “O curso foi uma coisa boa para nós. A professora Leda ajudou muito. Nós vimos que dá para você ver várias coisas através das fotos, né? Na sua mente, você vê uma coisa, e pela foto você vê outra paisagem. Ela ensinou também a mudar o ângulo, a imagem, a luz de tudo o que a gente vê...”
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos adolescentes.
Texto: Ascom Sejusp
Fotos: Adolescentes do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora
Fotos: Adolescentes do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora
Veja a seguir as fotos produzidas pelos adolescentes para a exposição "O Mundão e Eu":



















